18 de outubro de 2008

Comilança Portuguesa

Caros amigos e amigas,
Se passaram quase 2 semanas desde as ultimas noticias, e elas acabaram por se acumular.
Nestas 2 semanas fui a vários jantares na casa de amigos, a um almoço em uma fazenda que aqui se chama quinta, fiz uma vindima que é a colheita de uvas e o fazer do vinho, fui a Toledo e também a Madri, além de tomar vinho diretamente em uma adega subterrânea na casa de um companheiro(ficou parecendo o Lula!), mas vamos por partes.
Primeiramente nestas 2 semanas fui fazer a tão falada vindima, que consiste no apanhar ou como queiram, colher da uvas e transformá-las em sumo ou suco, ou no tão famoso vinho Português. Esta vindima fora feita na cova da beira, região do interior de Portugal, onde o vinho é conhecido por ser mais aromático e de cor necessariamente vermelha, bem vivo. Neste processo estou acabando por conhecer mais acerca dos vinhos. Pois, esta região então produz um vinho que me agrada muito particularmente por não ser tão encorpado, sendo de um paladar mais suave e gostoso. Então fiquei um dia todo fazendo a vindima, alias, a fiz acompanhado de mais 4 pessoas, Edgar, Zezinha(apelido) e os pais de Zezinha. Na verdade fora feito um vinho artesanal, o que é muito comum aqui, armazenado em tonéis de carvalho ou de outra madeira da preferência do degustador. São abertas as garrafas na data de 11 de novembro, dia de São Martinho, no ano seguinte ao seu fazer, para que o mesmo possa ganhar corpo e fermentar. Nesta data ocorre grandes festas regadas a vinho, pães e castanhas portuguesas, que são uma delícia, é um período considerado quente em meio ao outono, que já é considerado frio, um efeito climático que em Portugal ganha o nome de Verão de São Martinho e perdura-se por 15 dias.
Para variar conto-lhes que na data da vindima comemos, comemos e comemos. Além de ser extremamente divertido o processo da feitura do vinho e do sumo de uva é regado a comilança! Provei a feijoada Portuguesa, que é feita com feijão marrom e grande, uma espécie que nem conhecia, com algumas verduras e pedaços de chouriço, que é a nossa lingüiça tradicional. Me esqueci de dizer, eles chamam a lingüiça de chouriço, e a lingüiça de lombo de Paio. Comem a feijoada com arroz e pão, isto mesmo, pão caseiro, uma delícia...mas nem precisava de dizer né?!?!?! Mas o que interessa é que foi muito bom, alias, foi tudo muito bom.
Pra variar lhes conto mais 4 “causos” de comilança! O primeiro fora na casa de 2 amigos do tão famoso Tio Uco. Fomos jantar na casa deles e escutamos ao vivo a filha do casal tocar acordeom, ou sanfona pros mais íntimos, e pra falar a verdade a menina deu show. Toca a 12 anos, ou seja, não precisa nem falar o quanto é legal. Mas tal cantoria foi regada mais uma vez a comida. Lombo de porco com molho agridoce e castanha, purê de batatas gratinado com queijo e claro, pão caseiro!
O segundo jantar fora servido na casa do Daniel, macarronada de frutos do mar. Nossa como estava bom! Mexilhões, camarões, lula, polvo, kani e lagosta. Comi muito! De sobremesa um doce típico Português com ovos, leite condensado e biscoitos palmier, uma delicia. Na parte de cima da casa de Daniel tem um sótão, onde existe uma mesa de cartas, televisão para jogos do Benfica (maior time português em torcida), adega e livros, vários livros, de Camões a Drumont, de poesias a contos. Alias, o Daniel é cantor, faz parte de um grupo que já foi até o Brasil, na verdade ele é o que se diz na música de Baixo, acompanha o Tenor e os Sopranos, lindo demais! Um coral muito bem ensaiado, tem até DVD gravado! Claro, teve palhinha do Cantor...
Na terceira comilança fui conhecer o Sr. Ferro, um velhinho que vive sozinho numa aldeia onde moram por volta de 100 pessoas, alias, aldeias pequenas aqui são aos montes, tradicionais, antigas e a maioria linda! Algumas da época medieval, toda e pedra. Mas voltando ao almoço fora servido para nós Bacalhau ao Zé do Pipo, que é uma posta bem grossa de bacalhau envolvida por purê de batatas e queijo, gratinado no forno! Este prato é individual, ou seja, fica parecido com uma torta, o bacalhau fica escondido em meio ao purê e delicioso. Conheci a propriedade do Sr. Ferro, onde existe além da casa que é grande e bem antiga, daquelas com piso de madeira, sótão e porão, o resto de sua propriedade! É sozinho, sua esposa faleceu e ele ficou de luto, não arrumou mais nenhuma mulher, fala dela com muito carinho e amor, suas companhias são suas cabras, oliveiras e gatos. Contador de historias nato nos falou dos tempos do seu pai e da forma como pisavam o vinho e como faziam azeite, tudo muito interessante. Na verdade no almoço tomamos uma garrafa de vinho produzida por ele na década de 40, ou seja, a garrafa tinha mais de 60 anos, nossa! Provei o dito vinho do Porto e gostei, achei-o muito diferente dos outros, mas como é mais doce foi do meu agrado! Tudo muito histórico, parecendo algum conto de livro, a casa, os vinhos e ate mesmo o Sr. Ferro que mais parecia um personagem do que uma figura real.
Na ultima história de comida, ou no ultimo “rango”, fomos na quinta do Daniel comer coelho ensopado e vinho pra variar, estava uma delícia! Se reúnem vários homens todos os sábados e comem e bebem durante todo o dia, uma média de 5 a 6 garrafas por pessoa da hora do almoço ao fim da tarde, e o impressionante que não ficam bêbados, claro minha cota como sempre, 2 ínfimos copos. Depois saímos por volta das 16 horas e fomos a casa do Lopes, um dos integrantes do clube do bolinha português! Na verdade fomos a sua adega para beber mais, como quase não bebo fiquei somente olhando o povo continuar aquela maratona alcoólica, claro, tudo regado com queijo e pão. Estava tudo muito legal e engraçado, mas não podíamos demorar pois iríamos para Madrid e Toledo no outro dia pela madrugada.
Mas esta história fica pra próxima...
Abraço para os rapazes e beijão para as meninas.
E como sempre... Valeu Moçada!!!